domingo, 25 de janeiro de 2009

A volta dos que não foram.

Acho que foi na segunda série quando aprendi sobre o ciclo da água. Não me esqueço de maneira alguma a Tia Nilce explicando todo o percurso que a água fazia em seus diversos estados para poder atender a todos e manter seu ciclo. Assim como não esqueço a montagem que fiz em uma cartolina de fundo azul claro com toda esta estória. Ali aprendi definitivamente que existem coisas que tendem a entrar em ciclo. Na vida, aprendi que o que sinto pelo Rio de Janeiro tbm é cíclico. Estou aqui prestes a ir embora, voltar a minha vida passados 25 dias do ano ainda sem pisar na terra onde vivo. E ao olhar as minhas coisas na mala pra ver se esqueci algo, aquele velho costume de me pegar vendo detalhes da casa que até hj são os mesmos, dos vizinhos que se mantém no mesmo lugar e uma incrível sensação de saudade por saber que dentro de minutos não estarei mais aqui nesta cidade.


A mesma cidade de sempre, onde avisto o Cristo Redentor e sempre me pego conversando com ele espontaneamente, a mesma cidade que tem me assustado tamanha banalização que a violência chegou. Me sinto quase uma mulher de malandro onde apanho vendo notícias terríveis como a morte de um estudante que saiu a noite e que atiraram pra baixo do prédio pq tava barulho demais, assim como cada blitz que passo de madrugada onde rezo pra que sejam mesmo policiais e não bandidos armando mais um belo assalto. O termo miliciano entre meus sobrinhos é comum. Suas brincadeiras giram em torno de “dar um teco” ou “vou te apagar” e mesmo com toda essa realidade revoltante da cidade que nasci e amo, me peguei na madrugada anterior a minha volta, ime deitando pra dormir e perceber que eu estava pensando em como poderia fazer para morar aqui.

É difícil sentir essas idas e voltas prestes a partir. Quando penso ter amadurecido e aceitar essa cidade apenas em épocas de férias, me entrego a ela mais uma vez assim como noto que me entregarei a cada vez que for a mais um ensaio de escola de samba, ao ouvir uma bateria comendo solto, ao entrar no maracanã e ver aquele chão verdinho lá no fundo ou simplesmente a cada vez que na rua as pessoas conversam contigo naturalmente. A cada mulher carioca que é sensível a um outro tipo de beleza, onde a maquiagem não impera e sim o ato de saber ser, andar sorrir e suavemente provocar.


É impossível não me render a esta terra por tudo que ela já me ofereceu e por tudo que ela me ensina a cada vez que aqui passo. Mesmo debaixo de chuva durante os últimos 10 dias, engarrafamentos kilométricos, medo de ser assaltado em pontos perigosos, cá estou eu me rendendo ao sol que finalmente desponta de manhã e me dá a certeza de que isso aqui ainda mexe comigo.

Ao constatar essa cidade dessa maneira, neste exato momento, vejo como Brasília é importante pra mim, pois até hj volto pra lá por escolha própria e olha que eu já sou dono do meu nariz para escolher o que fazer da minha vida faz alguns bons anos. Brasília então recebe a carga de saciar meus desejos não concretizados aqui e de ainda me deixar não tão carregado ao ponto de que a única coisa que me salve, seja uma viagenzinha pra cá pra descarregar tudo.

Enfim, tento negar minhas fortes influências daqui mas definitivamente não consigo. A minha paixão por aqui muda de forma por diversas vezes assim como a água, mas o resultado final é sempre o mesmo. É mais um ciclo que termina e que está pronto pra iniciar em uma outra forma, em um próximo momento.

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