Texto escrito enquanto voltava para a região central do país atrás de chuva, gente fechada, poeira, musica sertaneja, trabalho e outros mais.
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É tudo muito complicado.
Por muitas vezes me desmotivo a escrever sobre a complexidade que vejo em tentar explicar o que sinto toda vez que vou embora do Rio.
A tristeza que sinto, a saudade que machuca e o choro que engulo, são sensações de uma criança que não realizou o sonho de viver no Rio. O mix de sensações – de espanto com a cidade hoje em dia, a apologia à malandragem e ao que se dá bem sem produzir muito(coisas que luto para não deixar acontecer na cidade que vivo) - fundem-se às visões que tenho do Cristo em um dia de sol abençoando a cidade, das mulheres belas pela simplicidade e pelo povo que vale à pena, que trabalha duro, rala pra caramba e ainda se mete horas num ônibus lotado pra ter o direito de curtir uma praia com o sorriso no rosto que expressa o mais sincero orgulho de ser carioca.
Como não sentir diferença ao ver pessoas diretas, que conversam, falam o que pensam e procuram ser autênticas simplesmente porque são assim. Como não se notar passando pelas ruas e vendo pessoas com blusas de seus times à espera do ônibus para ver o seu time jogar. Como não vibrar ao sentir o pulsar de uma bateria em um ensaio qualquer de escola de samba e perceber, que apesar dos problemas e dificuldades do dia a dia, aquele é um momento para se contemplar o samba e a sua escola.
Quem nunca viveu isso ou não se sensibiliza com estes acontecimentos, nunca saberá o que é deixar o Rio de Janeiro. O que é ver o avião levantar voo do Santos Dumont e ver a cidade inteira na palma da sua mão sem saber quando estará ali novamente. Dar adeus a seus familiares e quando voltar a vê-los, constatar que muita coisa mudou e que você não fez parte daquele processo.
Não é fácil estar aqui no avião escrevendo e perceber,que agora, ao ver as luzes de Brasília lá embaixo enquanto o avião prepara sua aterrissagem, já está na hora de esquecer um pouco do Rio e viver intensamente uma cidade que tanto reclamo mas que também tanto amo como é o caso de Brasília.
A cidade que acolheu uma criança que sonhava morar no Rio e o deu educação, mostrou o poder das oportunidades e gerou amizades que hoje são familiares. É doloroso descobrir que também amo e tenho sonhos e projetos a serem realizados na capital federal. E que o tempo e as cobranças internas de ser uma pessoa e um profissional melhor, sugarão meu tempo e congelarão minha saudade doída pela Cidade Maravilhosa. Que o tempo passará e que verei que estou fadado a viver essa bigamia de terra natal sabendo que nunca apenas uma me completará.
Só mesmo ficar aqui escrevendo desde a decolagem até a o pouso, possa talvez ser um momento em que eu consiga desabafar um pouco do que sinto em momentos como esse, mas muito longe de que eu compreenda um dia.
Espero que possa ter a chance de tentar realizar as metas que impulsionam a minha vida e que, quando estou no Rio, percebo ser o sentido nessa vida de idas e voltas sem um lugar fixo no coração.