terça-feira, 3 de abril de 2012

Reflexões de um espinho.



Estava eu sem carro, em revisão, e voltei a vida antiga de reajustar meus horários com os ônibus, sair mais cedo de casa. Uma vida que vivi tanto que algumas situações geram diversas lembranças. Numa espera dessas de ônibus em um final de semana com o ponto vazio, deparo-me com uns escritos digitados em folha rascunho, meio amassado, meio pisado, numa tentativa de estar dobrado e jogado em um dos bancos do ponto no qual eu esperava o ônibus passar.


Curioso que sou e certo de que ninguém estava por perto me observando, olhei para as folhas amassadas e ainda cheguei a procurar um dono. Como o ponto estava vazio, resolvi ver do que se tratava e comecei a ler. O que mais me chamou a atenção foi que no início da folha, preso com um clip, havia uma notinha amarela escrita a lápis que dizia o seguinte:

"A quem encontrar essas palavras, se achar que faz sentido, passe adiante, por favor."

Em um momento de devaneio, me apossei da folha de papel e decidi “passar a diante”:




 *                                                                *                                                                  *



Não sou fã do tipo de discurso de que o que foi vivido foi o maior de toda vida. Não gosto de achar que vivemos coisas únicas, pois estamos sempre nos deparando com novas sensações. A vida é sensacional demais pra nos fecharmos e dizer que só vivemos algo uma vez ou que nunca mais seremos felizes. 


Confesso que de início não acreditei no que poderia me acontecer. Achei que seria apenas divertido e mais uma simples sensação.



Graças a uma carência absurda que eu atravessava, me dei a chance de te conhecer e viver de forma mais profunda você. E foi aí que acabei quebrando a cara. Descobri que algumas certezas estavam se esvaindo em mim, havia uma sensação diferente. Havia um novo tipo de conviver, aprender e me relacionar.


Me apaixonei por você pelo que me proporcionava. Pelo riso compartilhado, pela amizade que atravessa limites e pelo carinho que tomava conta. Me distanciei das diferenças gritantes entre nós e me deixei ser levado por essa sensação gostosa que é gostar de alguém. Mas nem tudo são flores e as distorções ocorreram sim, muitas vezes sob forma de mostrar à minha pessoa de que não me envolveria tanto assim. E estar com você me fez enxergar que eu poderia ser melhor. Decidi entrar nessa, ver o que iria me acontecer.

Com o tempo, as coisas normais da vida nos aconteceram: cansaço, dúvidas e sabotagens. Mas acima de tudo, acima das fraquezas pessoais, a certeza de ter tentado. Hoje, olhando muito mais serenamente e enfim conseguindo "desembaçar a visão" de uma decisão pra “explicar tudo” através de vazias conclusões, sei que me dediquei como nunca e vivi algo muito bom!

Abri as portas da minha vida, da minha família e cotidiano. Isso pra mim é abrir minh´alma.

Olho pra trás em tom de despedida agradecido. Foi muito bom. Os olhares, toques, carinhos e risadas. 


A intensidade é relativa. Para alguns é como um pulo de um avião sem paraquedas. Para outros, uma viajem tranquila e de belas paisagens. Não há como comparar quem se entrega mais, pois não é uma competição, e sim, uma chance de viver algo que possa se considerar inesquecível. E assim foi feito. Você entrou na minha lembrança, ajudou-me a mudar conceitos internos e fará parte da minha vida, queira ou não. 


As decisões foram tomadas e a vida continuou sua direção inexorável de sempre seguir em frente.

Ontem fui parte contigo, hoje sou fruto também dessa experiência e amanhã só saberei vivendo.

Orgulho de ter tentado, certeza de ter amado e contentamento por ter me arriscado.

O maniqueísmo que existiu entre a flor e o espinho, já passou. 

Não estou atrás de extremos. Nem a dureza e secura do espinho, muito menos a leveza e delicadeza de uma flor.

Nada disso está mais em jogo. O que importa agora é seguir.

Sinto-me na obrigação de mostrar que não há certezas nem verdades absolutas. Amar é uma habilidade de todos nós e é praticado de diversas formas.

E o legado que fica dessa experiência é que amarei sempre. 

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